campanha

domingo, 6 de março de 2011

Ariano Suassuna (1927)

Poeta, dramaturgo e romancista, Ariano Vilar Suassuna nasceu na cidade da Paraíba (hoje João Pessoa), capital do Estado da Paraíba, a 16 de junho de 1927.

Pode-se dizer que o teatro de Ariano Suassuna assenta-se sobre dois pilares fundamentais: a tradição mediterrânica e o romanceiro popular nordestino. Pilares que fundamentaram toda a concepção moderna de uma dramaturgia nordestina erudita, que passa, obrigatoriamente, pelo trabalho desenvolvido, de 1946 a 1953, no Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), e, num segundo momento, pela experiência do Teatro Popular do Nordeste (TPN), de 1960 a 1962. Foi no TEP, sob influência direta de Hermilo Borba Filho, que Ariano Suassuna começou a escrever para teatro, construindo uma obra modelar, referência obrigatória para todos os que desejam conhecer a dramaturgia nacional.
Hermilo Borba Filho, pela experiência anterior no campo do teatro, que remonta à sua adolescência em Palmares, pelo fato de que possuía dez anos a mais do que a idade média dos outros participantes do grupo e pelo intelectual amadurecido que já era quando ingressou na Faculdade de Direito do Recife – foi o grande líder e formador de opinião entre os jovens intelectuais que participaram do TEP. Em um depoimento escrito em 1964, Ariano Suassuna ressaltava a importância fundamental de Hermilo, sobretudo através do trabalho desenvolvido à frente do TEP, na gestão de ideais que seriam, em um futuro próximo, aprofundados e concretizados pelo Movimento Armorial. Em um artigo publicado no Diário de Pernambuco, em 1971, Suassuna voltava àquele depoimento de 64, quando afirmou:
“No que se refere à nossa geração, não há ninguém que se possa comparar a Hermilo Borba Filho como abridor de veredas e apontador de caminhos. De fato, foi com sua lição, mais do que com a de qualquer outro, que todos nós nos encontramos, quando, aí por 1946, procurávamos uma Poesia, uma Pintura, um Romance, uma Música e, sobretudo, um Teatro, que, ligando-se à tradição do Romanceiro Popular Nordestino, não nos deixassem presos aos limites, para nós por demais estreitos, do Regionalismo. Foi, assim, do movimento do  Teatro do Estudante de Pernambuco – que se identifica única e exclusivamente com Hermilo Borba Filho – que surgiu, entre outras coisas, a primeira Poesia brasileira ligada a nossos mitos, a nossos animais fabulosos, a nossos heróis, aos Cangaceiros. O que nós desejávamos e buscávamos, sob o ensinamento de Hermilo Borba Filho, era uma Poesia quente e viva que, ainda palpitando do sangue generoso e popular de onde saíra, pulsasse dentro de nós, ao ritmo do nosso próprio sangue, ao galope dos nossos cavalos magros, ágeis e ardentes como os árabes, ao riso dos nossos Circos, aos cantares épicos, trágicos ou sardônicos dos nossos Cantadores, ao gume solene e cruel das nossas Cantadeiras de excelências – essas fúrias e harpias sertanejas, impassíveis como carpideiras e trágicas como as figuras dos oros gregos”
Não foi outro, senão Hermilo Borba Filho, quem anunciou, em 1950, a consolidação de um Teatro do Nordeste, o que fez através de seu parecer como membro da comissão julgadora do concurso de peças instituído pela Divisão de Extensão Cultural e Artística da Secretaria de Educação e Cultura do Recife (Prêmio Martins Pena). A peça vencedora foi o Auto de João da Cruz, de Ariano Suassuna, inscrita no concurso sob o pseudônimo de Leandro Gomes de Barros.  Disse Hermilo, em seu parecer:
“O ‘Auto de João da Cruz’, de todas as peças apresentadas, é a que mais está dentro do espírito das bases. Por outro lado, a peça até ultrapassa os limites de um concurso desta natureza, projetando-se como uma das coisas mais sérias que já se fizeram em benefício de uma literatura dramática brasileira. Não exagero ao dizer que, com este auto, acha-se criado definitivamente o já falado Teatro do Nordeste, até agora representado, em sua maioria, por peças que, embora possuindo valor, não se achavam impregnadas do espírito da terra. Convém notar, não somente pela forma – a de auto – mas também pelo seu conteúdo, a linha estrutural dramática iniciada pelos dramaturgos do Século do Ouro da Espanha, especialmente Calderón de la Barca, o que equivale a dizer que o autor valorizou de maneira erudita as mais profundas raízes do popular, em relação ao cancioneiro do Nordeste, de onde extraiu o argumento. Esta é uma analogia que se impõe e que equivale a um justificado elogio à força poética capaz de dar ao teatro uma obra de tanto peso como é o ‘Auto de João da Cruz’ ”
Estribado nos conhecimentos adquiridos durante os anos do TEP e do TPN, bem como em sua fecunda experiência como dramaturgo já então internacionalmente conhecido, Suassuna estabeleceu os princípios de um teatro armorial – vinculado ao Movimento de mesmo nome, lançado oficialmente a 18 de Outubro de 1970, no Recife.
Os princípios do teatro armorial expressam “o desejo de um espetáculo total brasileiro, no qual se usassem as máscaras, o canto, a música, a dança, as roupagens imaginosas dos espetáculos populares nordestinos”; o desejo de um teatro que, partindo do nosso Romanceiro popular (universo de poemas e canções que inclui desde a Literatura de cordel até a de tradição oral decorada), bem como dos espetáculos populares a esse mesmo Romanceiro relacionados, procurasse “um modo brasileiro de se vestir, de representar e atuar no palco”.
Trata-se, como se vê, de um teatro que se impõe como verdadeira arte de síntese, de um espetáculo que resulta não apenas da junção de elementos díspares, mas de uma verdadeira fusão, somente possível mediante o respeito absoluto a seus postulados estéticos, à unidade da estética armorial.

Autoria

● 1947 - Uma mulher vestida de sol
● 1948 - Cantam as harpas de Sião
● 1949 - Os homens de barro
● 1950 - Auto de João da Cruz
● 1951 - Torturas de um coração
● 1952 - O arco desolado
● 1953 - O castigo da soberba
● 1954 – O rico avarento
● 1955 - Auto da Compadecida
● 1956 – Fernando e Isaura
● 1958 - O desertor de Princesa
● 1957 - O casamento suspeitoso
● 1957 - O santo e a porca, imitação nordestina de Plauto
● 1958 - O homem da vaca e o poder da fortuna
● 1959 - A pena e a lei
● 1960 - Farsa da boa preguiça
● 1962 - A caseira e a Catarina
● 1987 - As conchambranças de Quaderna
● 1997 - A história de amor de Romeu e Julieta




Fonte: Itaú Cultural

Nenhum comentário:

Postar um comentário