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segunda-feira, 7 de março de 2011

Teatro da Vertigem (1992)

Grupo encabeçado pelo encenador Antônio Araújo, mais representativo conjunto paulista dos anos 1990, responsável pela pesquisa e criação de espetáculos em espaços não convencionais, realizador da Trilogia Bíblica formada por Paraíso Perdido, 1992, de Sérgio de Carvalho; O Livro de Jó, 1995, de Luís Alberto de Abreu; e Apocalipse 1,11, 2000, de Fernando Bonassi .
O grupo nasce em 1992, quando o encenador Antônio Araújo reúne uma equipe de colegas advindos da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ECA/USP. São seus colaboradores nesse período os atores Daniela Nefussi, Johana Albuquerque, Lúcia Romano e Vanderlei Bernardino.
A primeira montagem do grupo é Paraíso Perdido, livremente inspirado no poema barroco de John Milton, 1992. A dramaturgia é desenvolvida junto aos intérpretes por Sérgio de Carvalho e, após um ano de preparo, a encenação de Araújo estréia na Igreja de Santa Ifigênia, no centro de São Paulo. Uma árdua batalha é travada nos bastidores, pois setores conservadores da comunidade religiosa não concordam que a igreja seja utilizada para um espetáculo teatral. Vencidas as resistências, afinal, a realização mostra-se bela, grandiosa, um comovente diálogo entre as figuras humanas em sua busca pela essencialidade divina.
A montagem seguinte desloca o grupo para um outro ambiente: o Hospital Humberto Primo. Com dramaturgia de Luís Alberto de Abreu, o episódio bíblico d´O Livro de Jó se converte num pretexto para a exploração das mazelas enfrentadas pela humanidade naquele final de século. Aproveitando a arquitetura do local, o público acompanha Jó e sua peregrinação espiritual, observa-o em sua luta contra as agruras da existência e a peste, e sua morte no ambiente da sala cirúrgica.
Após um ano de estágios e cursos em Nova York, Araújo retorna cheio de idéias e decide colocar em cena Apocalipse 1, 11, inspirado no Apocalipse, de São João. Desta vez, o texto é de Fernando Bonassi, novamente em "processo colaborativo" com os atores. Esta nova incursão sobre a miséria humana toca pontos abjetos, feridas abertas no tecido social, cenas de horror e miséria em sentido literal. A personagem de João, identificado como um migrante nordestino, percorre ambientes sórdidos até defrontar-se com Jesus Cristo.
Recursos de intensa teatralidade, imersão da equipe nos ambientes e nas personagens enfocadas, rigorosa preparação corporal e vocal constituem a base do trabalho de linguagem do Teatro da Vertigem. Ao lado da ocupação em espaços não convencionais, perdura a exploração de novos procedimentos no âmbito da dramaturgia e da concepção de seus espetáculos, seguidamente premiados e reconhecidos pela crítica e pelo público.
Participam do grupo, no momento, os atores Vanderlei Bernardino, Sérgio Siviero, Miriam Rinaldi, Joelson Medeiros, Roberto Audio, Luciana Schwinden e Luís Miranda. Entre os colaboradores artísticos destacam-se o iluminador Guilherme Bonfanti; o músico Laércio Resende; o cenógrafo Marcos Pedroso e o figurinista Fabio Namatame, e os atores dissidentes Matheus Nachtergaele e Mariana Lima.
Sobre a equipe, declara a crítica Beth Néspoli: "Inocência, crime e castigo são temas comuns à trilogia bíblica levada à cena pelo Teatro da Vertigem. Na primeira peça, a inocência perdida era a causa do sofrimento humano. Na segunda, o grupo voltou-se para a revolta de Jó contra o sofrimento a ele infligido sem explicação, o castigo de um homem inocente, um castigo aparentemente sem crime. Nesta terceira peça, Deus não responde aos apelos do homem, que terá de julgar a si mesmo por seus atos. Não há eleitos como no original e Nova Jerusalém está dentro do homem, é preciso uma transformação interna para atingi-la.(...) Embora não sejam interativos no sentido de exigir uma participação física da platéia, os espetáculos do Teatro da Vertigem têm como principal característica destinar-se não só à mente, mas aos sentidos do espectador”.
Fazendo uma análise da trajetória do grupo até então, o crítico Aimar Labaki é categórico: "O Teatro da Vertigem é o mais importante grupo de teatro a surgir no Brasil nos anos 90. (...) À parte a qualidade excepcional de suas três montagens até agora, é o mais sintonizado com os temas e procedimentos do teatro contemporâneo e o que mais impacto causa nas platéias nacionais ou estrangeiras (...) Mesmo que a trilogia esteja terminada, os temas e os procedimentos estão longe de serem esgotados. O último espetáculo, ao invés de tentar condensar algumas respostas, levantava ainda mais questões. É de esperar novos lances nessa emocionante trajetória. Mas, mesmo que o grupo se dissolvesse neste momento, seu lugar na história do teatro brasileiro já estaria assegurado”.
Espetáculos

● 1992 - São Paulo SP - Paraíso Perdido
● 1995 - São Paulo SP - O Livro de Jó
● 2000 - São Paulo SP - Apocalipse 1,11
● 2006 - São Paulo SP - BR3
● 2007 - 2007 - São Paulo SP - Teatro da Vertigem (2007 : São Paulo, SP)




Fonte: Itaú Cultural

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