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segunda-feira, 7 de março de 2011

Companhia do Latão (1996)

Grupo criado em 1996,  em São Paulo, por Sérgio de Carvalho, Márcio Marciano, Ney Piacenttini, Maria Tendlau, Georgette Fadel, Gustavo Bayer, Nelli Sampaio, entre outros, para a encenação de Ensaio Sobre Danton, de Georg Büchner, no Teatro Cacilda Becker, em 1996. O grupo desenvolve um trabalho de crítica a sociedade capitalista, seus mitos e modos de representação. Aliam a investigação do teatro épico com técnicas brechtianas de encenação. Os espetáculos do grupo têm um caráter processual, de transformações constantes e são abertos a crítica do público, características evidenciadas desde a primeira montagem .
Em 1997, encena Ensaio sobre o Latão, adaptação de textos de Bertolt Brecht. Trata-se de um experimento cênico que discute o teatro e os critérios para a representação da realidade em cena. No ano seguinte, monta Santa Joana dos Matadouros, de Bertolt Brecht, espetáculo que resume esse primeiro ciclo de exploração da técnica e da teoria do teatro épico.
Após o contato com a obra de Gilberto Freyre, o grupo cria seu primeiro espetáculo inteiramente autoral O Nome do Sujeito, em 1999, inspirado no livro Assombrações do Recife Antigo, de Freyre. Sobre esse espetáculo, comenta a professora Iná Camargo Costa: "Uma das maiores virtudes de O Nome do Sujeito é aquele enquadramento: o narrador introduz e especifica o ponto de vista a partir do qual o espetáculo está sendo apresentado. São intervenções que mostram que o espetáculo não tem pretensão de ser o que não é. De início ele assume o ponto de vista da obscuridade e no final tem aquela cena da fotografia em que alguém diz: eu preciso de luz. E aí se apaga tudo. Eu não consigo imaginar maior consciência de ponto de vista. Quando não se participa de um movimento coletivo, o importante é tentar entender o que se passa. E não fazer de conta que está acontecendo alguma coisa que não está".
A questão das relações de trabalho, da mais-valia e temas correlatos são exploradas em A Comédia do Trabalho, de 2000, onde expõe as contradições inerentes ao modo capitalista de produção. Auto dos Bons Tratos, de 2002, está voltada ao modelo de teatro didático e representa uma discussão sobre as origens da "cordialidade" brasileira, investigada sobre episódios do Brasil Colônia. Além do trabalho de montagem de espetáculos, das experimentações cênicas e musicais, o grupo edita a revista Vintém, periódico que publica as discussões teóricas do coletivo e textos sobre crítica teatral, cultura, política e pensamentos de esquerda.
Por ocasião do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica - FITEI, em 2002, o professor Mario A. Rojas, da Universidade Católica da América, em Washington, analisa a relevância e especificidades do trabalho do grupo: "A primeira coisa que chamou a atenção da presença do Latão no festival foi sua excepcional habilidade em proporcionar um diálogo permanente com os críticos convidados. Além de distribuir uma série de publicações em que expunham em detalhes os fundamentos teóricos de sua práxis teatral, os membros do grupo organizaram um colóquio em que apresentaram suas idéias sobre os princípios estéticos e ideológicos que dão sentido e forma a seu teatro e convidaram o público a participar, no que resultou ser um animado debate. O grupo causou uma impressão positiva pela seriedade do seu trabalho, a clareza de suas idéias e por manterem-se consistentemente entre sua teoria e prática teatral. Seus espetáculos destacaram-se por dois aspectos principais: pelo uso quase ascético de elementos cênicos - modalidade muito diferente das lúdicas e vistosas habituais trazidas pelos grupos brasileiros - e por seu criativo e renovado seguimento da teoria e práxis brechtiana (...) De fato, como bem sinaliza Fredric Jameson no livro citado Brecht and Method, o significativo da obra do gênio alemão não repousa tanto na sua mensagem pontual, tópica e dialética, senão na sua compreensão de princípios políticos nos quais a práxis coletiva, junto com a ética coletiva e o foco numa situação específica à mão, podem ajudar-nos a continuar sonhando com aquelas utopias de redenção social (termo cunhado por meu compatriota Hernán Vidal), revitalizar uma consciência planetária, levantar dos escombros as utopias políticas contestatórias. (...) O grupo Latão está nesse caminho. Se fará sucesso ou não, a alternativa de trabalho que propõem é perfeitamente legítima”.



Espetáculos

● 1996 - São Paulo SP - Ensaio para Danton
● 1997 - São Paulo SP - Ensaio sobre o Latão
● 1998 - São Paulo SP - Santa Joana dos Matadouros
● 1998 - São Paulo SP - O Nome do Sujeito
● 1999 - São Paulo SP - João Fausto
● 2000 - São Paulo SP - A Comédia do Trabalho
● 2002 - São Paulo SP - Auto dos Bons Tratos
● 2003 - São Paulo SP - O Mercado do Gozo
●2003 - 2003 - São Paulo SP - Café com Arte. Companhia do Latão (2003 :   
    São Paulo, SP)
● 2004 - São Paulo SP - Equívocos Colecionados
● 2004 - São Paulo SP - Visões Siamesas
● 2006 - Rio de Janeiro RJ - O Círculo de Giz Caucasiano
● 2006 - São Paulo SP - O Círculo de Giz Caucasiano




Fonte: Itaú Cultural

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