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domingo, 6 de março de 2011

Década de 70

O que acontecia?
Teatro no Brasil



Na década de 70 a censura imposta pelo governo militar chega ao auge. Os autores são obrigados a encontrar uma linguagem que drible os censores e seja acessível ao espectador. Nessa fase, surge toda uma geração de jovens dramaturgos cuja obra vai consolidar-se ao longo das décadas de 70 e 80:
  • Mário Prata (Bésame mucho),
  • Fauzi Arap (O amor do não),
  • Antônio Bivar (Cordélia Brasil),
  • Leilah Assunção (Fala baixo senão eu grito),
  • Consuelo de Castro (Caminho de volta),
  • Isabel Câmara (As moças),
  • José Vicente (O assalto),
  • Carlos Queiroz Telles (Frei Caneca),
  • Roberto Athayde (Apareceu a margarida),
  • Maria Adelaide Amaral (De braços abertos),
  • João Ribeiro Chaves Neto (Patética),
  • Flávio Márcio (Réveillon),
  • Naum Alves de Souza (No Natal a gente vem te buscar).
Nessas circunstâncias, se a década de 1960 iniciara-se com promessa de felicidade e de transformações, os anos de 1970 trouxeram, para o teatro brasileiro, outros horizontes e proposições. As expectativas anunciadas por bandeiras como modernização, simbolizadas pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), e transformação social e política, que teve nas atividades do Teatro de Arena e do Teatro Oficina o parâmetro do que se denominou teatro político, a pouco e pouco foram sendo substituídas, pois, por força de questões internas e de circunstâncias históricas, essas companhias encerraram suas atividades. O Teatro de Arena, em 1971, após a prisão e o posterior exílio do dramaturgo e diretor Augusto Boal, e o Teatro Oficina, em 1974, depois de uma invasão policial, que redundou na detenção de alguns de seus integrantes e na ida do diretor José Celso Martinez Corrêa para a Europa.
Mesmo com essas derrotas, a cena teatral continuou diversificada. Atores como Fernanda Montenegro, Maria Della Costa, Paulo Autran, Tônia Carrero, Fernando Torres, Dina Sfat, Paulo José, Othon Bastos, Martha Overbeck, Antonio Fagundes, entre outros, mantiveram-se em atividade. Autores como Plínio Marcos, Oduvaldo Vianna Filho, Gianfrancesco Guarnieri, Carlos Queiroz Telles produziram textos que dialogaram com aquele momento histórico. Diretores como Fernando Peixoto, Gianni Ratto, Flávio Rangel, Antunes Filho estavam em plena atividade.
Esses profissionais historicamente vivenciaram uma conjuntura sociopolítica vista como revolucionária, assim como assistiram, com perplexidade, à derrubada do governo Goulart, à tomada do poder pelos militares e, em conseqüência disso, o estabelecimento gradativo da censura e de restrições às liberdades individuais; que tiveram como contraponto as disputas em torno da resistência democrática x luta armada. Presenciaram também ao aumento progressivo de ações guerrilheiras na cidade e no campo, à intensificação do aparato repressivo (prisões, torturas, assassinatos e exílio de lideranças políticas) e à busca de novas alternativas culturais.
A conjuntura política transformava-se. Os sujeitos, atuantes em diversos segmentos sociais, deixaram de compreender aquelas circunstâncias históricas como revolucionárias. O país deixara de viver situações propícias à transformação e, sob esse aspecto, seria importante construir manifestações culturais capazes de suscitar o debate em favor das liberdades democráticas. O tema da revolução tornara-se uma possibilidade e não mais um dado eminente.
Esta sensação materializava-se, no meio artístico, com o exílio de artistas que questionaram padrões de comportamento (Caetano Veloso e Gilberto Gil), daqueles que participaram da instrumentalização da arte em favor da luta política (Augusto Boal), bem como dos que buscaram transformar as relações estabelecidas entre Arte e Sociedade (Zé Celso M. Corrêa).
Os que permaneceram no país deram continuidade às lutas, colocando em cena os temas da liberdade e da atuação do intelectual em uma sociedade de classes. Dessa maneira, o tema do engajamento e a postura intelectual assumidas pelo teatro brasileiro mantiveram-se, mas com uma postura redimensionada pelas novas circunstâncias.
Foi nesse ambiente que, em 1977, o dramaturgo Jean-Paul Sartre retornou aos palcos brasileiros, na encenação de Mortos sem Sepultura, com direção de Fernando Peixoto, que também assinou a tradução e adaptação do texto original, cuja ação dramática organiza-se em torno da conduta de torturadores (milicianos, do governo colaboracionista de Vichy) e torturados (membros da Resistência Francesa), diante da prática da tortura e da capacidade de resistência à dor em nome de uma causa.
Para além das questões inerentes ao texto, nesse momento, o que interessa é observar a maneira como ele foi lido e (re)significado por Fernando Peixoto. Desse ponto de vista, o primeiro dado refere-se ao fato de que a peça do existencialista Sartre foi interpretada por um dos mais brechtianos diretores brasileiros.
Na segunda metade da década de 70, considerando que a censura, o teatro de vanguarda e o teatro comercial promovem um "vazio cultural" na história brasileira, intelectuais e artistas se reúnem em prol de um teatro nacional-popular. O movimento retoma os princípios de uma dramaturgia crítica e realista, cujos melhores exemplos são Gota d'Água, de Paulo Pontes e Chico Buarque, 1975, e O Último Carro, de João das Neves, 1978.
 Em 1978 estréia de Macunaíma, pelo grupo Pau Brasil, com direção de Antunes Filho. Inaugura-se uma nova linguagem cênica brasileira, em que as imagens têm a mesma força da narrativa. Com esse espetáculo, Antunes Filho começa outra etapa em sua carreira, à frente do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), no qual desenvolve intenso estudo sobre o trabalho do ator. Grandes montagens suas fazem carreira internacional: Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno; Romeu e Julieta, de Shakespeare; Xica da Silva, de Luís Alberto de Abreu; A Hora e a Vez de Augusto Matraga, adaptado de Guimarães Rosa; Nova Velha História; Gilgamesh; Vereda da Salvação, de Jorge Andrade.
No ano de 79 a censura deixa de ser prévia e volta a ter caráter apenas classificatório. É liberada e encenada no Rio de Janeiro a peça Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, que fora premiada num concurso do Serviço Nacional de Teatro e, em seguida, proibida.





Referências: História do Brasil - Folha de São Paulo
                     Uma Breve História do Século XX - Geiffrey Blainey
                     Panorama do Teatro Brasileiro - Sabato Magaldi

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